Não é drama, é excesso de carga mesmo

Você já se pegou tentando respirar fundo no meio de um dia comum, sentindo como se estivesse carregando um mundo inteiro nas costas? Já se sentiu esgotado antes mesmo de começar a fazer o que precisava ser feito? Já ouviu de alguém – ou até de você mesmo – aquele comentário que soa como uma acusação disfarçada de brincadeira: “Nossa, como você está dramático”?

Pois é. Vamos começar deixando uma coisa bem clara: não é drama, é excesso de carga mesmo.

Vivemos numa época em que ser forte virou quase uma exigência silenciosa. Ninguém fala isso com todas as letras, mas está implícito em cada “você dá conta, sim!”, “é só se organizar melhor” ou no famoso “todo mundo tem problemas, segue em frente”.

Só que a verdade é que o que pesa para mim pode não pesar para você. E o que você suporta com leveza pode ser o que me faz desmoronar.

O peso invisível que ninguém vê

Sabe aquele cansaço que não passa com uma noite de sono? Aquela vontade de desaparecer por uns dias, sem explicações? Aquela sensação de estar no automático, respondendo mensagens, participando de reuniões, fazendo comida, cuidando dos filhos, pagando boletos, mantendo a pose — mas por dentro, só o eco do vazio?

Isso tem nome. E não é frescura. É sobrecarga emocional e mental.

Estamos constantemente expostos a cobranças – externas e internas. E o pior: muitas vezes, somos os nossos próprios carrascos. Nos exigimos produtividade quando o corpo só pede descanso. Nos culpamos por não dar conta de tudo. Achamos que não estamos fazendo o suficiente, mesmo quando estamos nos esticando ao máximo.

E aí, adivinha? Vem a culpa. Aquela companheira silenciosa que nos sussurra ao pé do ouvido que deveríamos ser melhores, mais eficientes, mais pacientes, mais fortes. Como se já não estivéssemos nos esforçando além do limite.

Ninguém foi feito pra carregar tudo sozinho

Tem uma imagem que sempre me vem à mente quando penso em sobrecarga: a de uma mochila. Cada um de nós carrega a sua. Algumas são mais leves, outras parecem mal caber nas costas. E cada coisinha do dia a dia — uma crítica, um compromisso, uma conta atrasada, um desentendimento, uma insônia, uma notícia ruim — vai sendo colocada lá dentro.

A mochila vai enchendo. E a gente continua andando, fingindo que está tudo bem, que é normal, que “a vida é assim mesmo”. Mas chega uma hora que não dá mais. O peso começa a vazar pelos olhos em forma de lágrimas que a gente nem sabe explicar. Ou pelo corpo, em forma de dores, ansiedade, exaustão.

E aí, mais uma vez, vem alguém e diz: “Você está exagerando”. E talvez, por um segundo, a gente até acredite nisso. Mas no fundo, lá no fundo, sabemos: não é exagero. É o limite.

Você não precisa provar nada para ninguém

Talvez você tenha crescido ouvindo que ser forte é não chorar. Que é preciso engolir o choro, levantar a cabeça e seguir. Que a vida é dura, e quem fraqueja fica para trás.

Mas e se eu te disser que ser forte é justamente o contrário?

Ser forte é ter coragem de sentir. De reconhecer quando está pesado demais. De pedir ajuda. De pausar. De dizer “hoje não dá”. De se acolher sem julgamento. De respeitar seus próprios limites.

Você não precisa provar nada. Não precisa dar conta de tudo. Não precisa ser tudo para todos.

Você só precisa ser você. Com seus cansaços, suas alegrias, suas pausas, suas confusões. Com seus dias bons e aqueles em que tudo o que você consegue fazer é sobreviver.

A sobrecarga não escolhe rostos

Sabe aquela pessoa que você admira por ser multitarefas, por dar conta de mil coisas ao mesmo tempo, por estar sempre sorrindo? Pode ser que ela também esteja no limite.

A sobrecarga é silenciosa. Ela não faz barulho. Ela se disfarça de produtividade, de responsabilidade, de “só mais uma coisa e já paro”. Ela se esconde atrás de uma agenda lotada, de sorrisos forçados, de um “tô bem” automático.

Às vezes, nem a própria pessoa percebe que está sobrecarregada. Vai empurrando com a barriga, acreditando que quando tudo acalmar, ela vai descansar. Só que o “acalmar” nunca chega. Porque sempre tem mais uma coisa, mais uma urgência, mais um pedido.

Até que o corpo grita. A mente trava. E tudo desaba.

O descanso não é recompensa, é necessidade

Vivemos numa cultura que glorifica o cansaço. Que premia quem trabalha além do horário, quem está sempre disponível, quem produz sem parar. Como se descanso fosse luxo, e não parte essencial da vida.

Mas aqui vai uma verdade importante: descansar não é preguiça. É sobrevivência.

A mente precisa de pausas. O coração precisa de silêncio. O corpo precisa de respiro. E você precisa de cuidado.

Não espere quebrar para se consertar. Não espere adoecer para se priorizar. Não espere tudo desmoronar para perceber que você merece leveza.

O que você sente é válido

Pode ser que você esteja lendo isso agora com lágrimas nos olhos. Ou com um nó na garganta. Ou talvez com um certo alívio, como quem finalmente encontrou palavras para explicar o que sentia, mas não conseguia nomear.

Então deixa eu te dizer, com todo o carinho: o que você sente é real. É válido. É importante.

Você não está exagerando. Não está louco. Não está fraco. Você está sobrecarregado.

E a boa notícia é que isso pode mudar.

Como aliviar a carga

Nem sempre dá para largar tudo e tirar férias de um mês nas Maldivas. Mas há pequenas atitudes que ajudam a aliviar a mochila do dia a dia. Veja algumas:

Nomeie o que sente.
Dê nome ao que está aí dentro. Raiva, tristeza, medo, ansiedade. Quando nomeamos as emoções, elas perdem um pouco da força que têm sobre nós.

Fale com alguém.
Pode ser um amigo de confiança, um familiar, um terapeuta. Falar alivia. E ouvir que você não está sozinho, acolhe.

Diminua a cobrança interna.
Nem tudo precisa ser perfeito. Nem tudo precisa ser feito hoje. Seja mais gentil com você.

Desconecte-se um pouco.
Redes sociais, notificações, mensagens — tudo isso cansa a mente. Permita-se silenciar o mundo um pouco.

Priorize o que importa.
Nem tudo é urgente. Nem tudo é sua responsabilidade. Escolha suas batalhas. E lembre-se: você é uma só pessoa.

Cuide do seu corpo.
Dormir bem, alimentar-se com carinho, movimentar o corpo — tudo isso ajuda a manter o equilíbrio emocional.

Permita-se o ócio.
Fazer “nada” também é fazer algo. É dar espaço para a mente respirar.

Você não está sozinho

Se tem algo que quero que você leve desse texto, é isso: você não está sozinho.

Milhares de pessoas sentem o que você sente. Carregam esse mesmo peso. Fingem sorrisos, engolem choros, continuam andando porque acham que não têm opção.

Mas temos, sim.

Temos a opção de falar sobre isso. De mostrar que está difícil. De acolher e sermos acolhidos. De parar de chamar de “drama” o que, na verdade, é um pedido de socorro.

Temos a opção de dizer: chega. Assim não dá mais. E tudo bem.

Vamos parar de romantizar o esgotamento

Já reparou como é comum ouvir alguém dizendo “nossa, essa semana trabalhei tanto que nem dormi” com um certo orgulho, como se isso fosse uma medalha?

Chega. Chega de romantizar a exaustão. De achar bonito estar sempre ocupado. De achar que só é merecedor quem está se matando de trabalhar.

Você tem direito ao descanso. Tem direito à pausa. Tem direito a dizer não. Tem direito a pedir colo. Tem direito de não estar bem.

E tem o direito — e o dever consigo mesmo — de cuidar da sua saúde mental e emocional com a mesma seriedade com que cuida da sua carreira, da sua família, das suas obrigações.

Acolha-se

Hoje, talvez tudo o que você precise seja um abraço. Um olhar que diga “eu te entendo”. Um espaço seguro onde possa simplesmente ser — sem precisar se explicar, sem precisar se justificar.

Então que este texto seja isso. Um abraço. Um lembrete de que você não está maluco, fraco ou dramático. Você está cansado. Você está vivendo uma vida intensa demais, com cobranças demais, com expectativas demais.

Mas você ainda está aqui. Respirando. Lendo. Se permitindo sentir.

E isso, meu bem, já é muita coisa.

Finalizando com leveza

Se tem algo que eu gostaria que o mundo entendesse é que a sobrecarga emocional não é invenção, nem exagero. É o reflexo de uma sociedade que cobra demais, ouve de menos e acolhe quase nunca.

Mas podemos começar a mudar isso.

Cada vez que você se trata com mais gentileza, está ensinando o mundo a fazer o mesmo. Cada vez que você fala sobre o que sente, está abrindo espaço para que outros também falem. Cada vez que você escolhe a leveza em vez da perfeição, está plantando mais humanidade nesse solo tão árido que é o nosso cotidiano.

E da próxima vez que alguém disser que você está “fazendo drama”, você pode, com toda a calma do mundo, responder:

Não é drama. É excesso de carga mesmo.

E eu tô aprendendo a soltar o que não me cabe. A pedir ajuda quando for preciso. A respeitar o que meu corpo e minha mente dizem. A priorizar a minha saúde. A me colocar em primeiro lugar.

Porque no fim das contas, só quem vive aqui dentro sabe o peso que carrega.

E a gente merece mais do que sobreviver: a gente merece viver. Com leveza, com afeto, com respiro.

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