Tem coisa que a gente sente e tenta ignorar. Mas volta. Às vezes no meio da noite, às vezes no silêncio de uma tarde qualquer. Volta com força. E, por mais que a gente tente negar, dói. Mas a dor, nesse caso, tem uma função que a gente esquece: ela mostra o que importa.
Porque a gente não sente tanto por aquilo que é indiferente. Não chora por algo que não tenha deixado marca. Não sofre pelo que nunca teve valor.
A dor revela. Ela aponta como um farol para aquilo que faz parte da nossa história, para os vínculos que construímos, para os sonhos que a gente desenhou e que, por algum motivo, foram interrompidos.
E dói porque importa.
Pode ser o fim de um relacionamento, uma amizade que se afastou, um projeto que não deu certo, uma palavra que magoou. Pode ser saudade de alguém que não volta mais, ou a frustração de não ter conseguido aquilo que parecia tão ao nosso alcance.
A dor chega como visita indesejada, mas muitas vezes carrega verdades que tentamos esconder até de nós mesmos. E quando ela se instala, o impulso é empurrá-la para longe. Mas talvez, se a gente a escutar com carinho, ela tenha algo a nos ensinar.
Nem toda dor precisa ser combatida com urgência. Algumas merecem ser compreendidas. Acolhidas. Porque é nesse processo que a gente se reconecta com o que tem valor. É quando a gente entende que certas feridas só existem porque algo foi – e ainda é – muito importante.
Quando um amor nos machuca, é porque ele foi real. Quando uma ausência nos dilacera, é porque houve presença. Quando um sonho nos decepciona, é porque acreditamos com o coração inteiro.
E acreditar com o coração inteiro é das coisas mais bonitas que a gente pode fazer.
Não há erro em se importar demais. O problema não está na intensidade, mas na ausência de compreensão. Quando não entendemos por que algo dói, ficamos reféns da dor. Mas quando reconhecemos a importância do que foi vivido, conseguimos transformar a dor em ponte. Ponte para o recomeço, para a maturidade, para o amor próprio, para a empatia.
A dor pode ser uma professora gentil, se a gente deixar.
Quantas vezes você já se pegou triste por algo que os outros acharam exagero? Quantas vezes se sentiu só por sentir demais? Por ter expectativas, por desejar profundidade, por se entregar com verdade? Pois saiba: isso tudo só revela o quanto você é humano. E isso é algo para se orgulhar, não esconder.
Dói porque importa.
Importa porque fez parte. Porque tocou fundo. Porque ressoou em algo dentro da gente que não é superficial. Algo que não pode ser apagado com distrações ou sorrisos forçados.
E aí está a beleza disso tudo: sentir é uma forma de honrar a vida.
Quem sente está vivo. E quem sente profundamente, vive intensamente. Ainda que com cicatrizes, ainda que com lágrimas nos olhos de vez em quando. Porque o mundo já tem superficialidade demais. O que falta é gente disposta a olhar para dentro, reconhecer suas dores e transformá-las em aprendizado.
Cada decepção carrega um convite à autocompaixão. Cada frustração esconde um chamado para rever rotas. Cada lágrima derramada tem um sentido. E se não soubermos ainda qual é, tudo bem. Algumas respostas chegam com o tempo. Outras, a gente constrói no caminho.
Mas não se culpe por sentir. Não ache que é fraco por sofrer. A dor que você sente não é fraqueza. É sensibilidade. É coragem de estar presente na própria vida. De não anestesiar tudo. De não fugir de si.
Sentir é um ato de resistência num mundo que tenta nos endurecer.
É fácil se tornar cínico. É fácil fingir que não dói. Mas você escolhe seguir com o coração aberto, mesmo sabendo que isso o torna mais vulnerável. E, por isso, mais forte também.
Pense em tudo o que você viveu até hoje. Nos laços que construiu, nos sonhos que cultivou, nas quedas que enfrentou. Cada momento desses moldou quem você é. E todos os sentimentos que vieram com eles — do riso ao choro — foram parte do processo.
Então, sim: dói. Dói mesmo. Mas essa dor é sinal de que você teve coragem de viver.
Coragem de amar, de confiar, de esperar, de acreditar. E isso não é pouco. Isso é grande. Isso é bonito.
A gente vive numa cultura que glorifica o controle, a racionalidade, a invulnerabilidade. Mas a verdade é que o que nos aproxima, o que nos conecta uns aos outros, é justamente aquilo que sentimos. As dores, as alegrias, os medos, os desejos.
É o sentimento que dá cor à nossa existência. Que dá sentido ao que fazemos. Que nos move.
E é por isso que vale a pena sentir. Ainda que doa. Porque só sente quem vive de verdade.
Deixe que a dor te fale. Não com gritos, não com desespero. Mas com a voz suave de quem apenas quer ser reconhecida. Quando a escutamos, ela se acalma. Ela não precisa mais gritar. Porque foi vista, foi sentida, foi respeitada.
E então, aos poucos, ela começa a ensinar.
Ensina que não somos feitos de ferro. Que não precisamos dar conta de tudo. Que tudo bem parar, respirar, chorar um pouco, abraçar uma lembrança. Que tudo bem se recolher. Que tudo bem ter medo. Que tudo bem.
Porque isso também passa. E quando passar, algo ficará: um aprendizado, um crescimento, uma nova perspectiva.
Dói porque importa.
E importa porque faz parte da nossa caminhada.
Não fuja da dor. Mas também não se prenda a ela. Olhe com carinho, com maturidade, com amor. E siga. Mais forte. Mais consciente. Mais você.
Toda vez que doer, pergunte-se: o que isso revela sobre mim? O que isso mostra sobre o que valorizo, sobre o que espero da vida, sobre quem quero ser?
Você vai se surpreender com as respostas. Vai se encontrar em meio à confusão. Vai perceber que, mesmo nos dias mais difíceis, há um fio que conecta tudo: a importância de sentir.
Porque sentir é viver. E viver é se importar. E se importar, sim, às vezes, dói.
Mas o que seria da vida sem a dor que nos desperta, sem a saudade que nos ensina, sem o amor que nos move?
Talvez o caminho não seja fugir da dor, mas entender que ela faz parte do pacote de uma vida que vale a pena. Uma vida onde a gente se entrega, se envolve, se permite.
E você merece viver assim.
Inteiro. Profundo. Real.
Dói porque importa. E importa porque é seu.
E tudo o que é seu, do seu jeito, com sua verdade, merece respeito. Merece cuidado. Merece amor.
Então, cuide de si. Com paciência. Com afeto. Com a sabedoria de quem sabe que até a dor tem um papel.
Ela só está dizendo: você amou. Você se importou. Você viveu.
E isso… isso é tudo.